quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Rock Adoeceu

Pois me recuso a dizer que o rock está morrendo. Veja e perceba. Mas não quero aceitar. Não quero enxergar. I don´t wanna... I don´t wanna... And... I don´t wanna

Foi na madrugada do sábado, dia 11, para o domingo, dia 12 de setembro. Estava por lá à toa, me divertindo, ou seja, fazendo um rock. Meu amigo Tio Bôra me ligara na sexta-feira anterior convidando-me para ir a uma festa de uma Big House em Campinas. Pensei: por que não interagir com uma nova sociedade? Por que não usufruir dos meus ainda 27 aninhos? Por que não agora? Fomos.

Estacionamos no [shopping] Ventura Mall e aguardamos o renault roxo que iria nos buscar. Cerveja na mão e cabelos ao vento, eu e Tio Bôra observamos “as melhores” enquanto o “cu roxinho” não chegava. Eis então que um Celta preto com três garotas estacionou ao nosso lado. Inaiê, anfitriã que nos receberia a mando do nosso anfitrião Fera, estava dentro do Celta preto.

- Mas não era um renault roxo? – indagamos Inaiê.

- É que o celta delas [as outras meninas] estava mais fácil de sair.

Bom... A festa prometia ser “daquelas,” afinal, três mulheres recepcionando dois homens indicava um possível azeite no rabo (sábios conselhos do experiente Tio Bôra...). E que peitos dessa Inaiê! Cresceriam dois centímetros de tanto eu mamar...

Chegamos! A casa era do caralho! Espaçosa por dentro onde, na sala, a banda. Ruim era o mini-quintal. Recortado. As paredes dele formavam ângulos oblíquos, restringindo o espaço. Mas beleza! A churrasqueira estava lá... E acesa!

Voltando a sala fui averiguar o que me intrigava: uma bateria eletrônica. Nada de tecladinho chá-chá-chá não. Era uma bateria mesmo, porém, eletrônica. Tipo a do Roupa Nova, saca? Ela era maaaagra (mineirinho falando)... Feinha. Um Marshall inglês 40 e um Fender U.S.A. 40 “torariam o pau” quando a banda começasse. O cubo do baixo e da voz não era a quem dos outros dois, mas beleza, gritariam bastante durante a festa. E aquela “magrela” me encarando. Que vontade de bater... (não de tocar).

Às vinte horas começou o rock. (Cedo?). Mas por que diabos aquela “porra eletrônica”? – perguntava-me. Tinha uma acústica desmontada ao lado, mas pô, a causa disso era o alto barulho. Solução: bateria eletrônica para deixar o som em um volume baixo. Com uma bateria normal os amplificadores “cantariam” mais altos e a polícia (a pedido dos vizinhos) baixaria lá. O que seria normal em uma festa rock. Mas não... “Não queremos perturbar a ordem. Queremos ficar na nossa. Fazer nosso som em paz”.

Essa mentalidade tá fudendo o rock!

Não estou fazendo apologia à briga, à pancadaria ou ao desentendimento. Estou fazendo apologia ao rock, caralho! É aquela história que falei na minha estréia aqui na Rádio (“Do Interior Para Fora ¹...”): o rock está comportado. Pô, então... Ele adoeceu, correto? Que rock biruta é esse? Cadê a rebeldia? Cadê o Johnny B. Goode misturando negros com brancos na sociedade racista dos Estados Unidos de 1954? Cadê a “polícia para quem precisa”? Cadê a “encheção” de saco? Porra, cadê a madrugada?

Era vinte e uma horas e cinqüenta e oito minutos e o equipamento foi desligado. O som da bateria (horrível por sinal) estava baixo! Meu... Cadê o rock? Está nas músicas? Por favor baby, se você acha que rock é só música, pare de ler este texto... Melhor! Vem cá. Senta aqui que eu te explico, gata! Gostosa!

Voltando...

Na plateia estava a representação de Sinva: eu, quando na única música que “misturou brancos e negros” [Would?], arregaçada pelos vocais do Tio Bôra, gritei: “a melhor música da noite!” - tipo as célebres de Sinva: Seattle é aqui! Eu sou um homem nas grades! Toca Marionetes! Também estavam Tio Bôra, garotas dançando (a la dançarinas do Faustão), bêbados, maconheiros em geral e um Casal Rock Nota 10. Ah! É claro... E a sensação da plateia: o garotinho Talles, dois anos de rock, filho do Casal Rock Nota 10.

O garoto interagia com o som, chacoalhava com o rock e era orgulho de todos. E todos pensavam: “esse garoto, quando crescer, vai ser um rockeiro foda!”. Já eu, o intolerante ², chorava... De tristeza mesmo... (Lá vem o cético... Cara chato meu...).

Eu queria saber o que se passava na cabeça de Talles durante el concerto. No começo ele não tirava os olhos deste cabeludo (vocês sabem... As crianças são carudas, né?). Aproveitei “o convite” e fiz o sinal do rock com as duas mãos, bem próximas ao seu rosto térreo, e mostrei-lhe a língua a la Kiss enquanto passava por ele para ir buscar outra cerveja. O Casal Rock Nota 10 aprovou! E little Talles também! Mas... Afora este gesto genuinamente rock n´roll, o que mais lhe servia de exemplo naquele local? Bateria de baixo volume? Música baixa para não incomodar? Festa de rock sem sirene para cortar o som? Sem sirene para não dizermos “polícia filha da puta deixa o rock rolar”? Que rock é esse que o Talles está descobrindo? E olha que, de cabeludo só vi eu e outro cara. Só vi quatro camisetas de bandas. E vai vendo... Daqui dez anos eu terei 37, o Tio Bôra 41 e o little Talles 12 anos (a idade em que se começa a tocar [é... Também!], deixar o cabelo crescer, questionar os pais e a polícia, adorar o capeta, enterrar cristo e ter raiva dos Estados Unidos e do sistema). E aí?

Little Talles não tomará enquadro da polícia, não vomitará na calçada, não terá cabelos longos, não rasgará sua calça, chegará no horário, viverá em seu quarto e aceitará a ordem vigente sempre. Será um adolescente comportado, comum, normal, pois terá crescido sem ver e conhecer o verdadeiro rock n´roll. Ok! Isto é só uma projeção suposta e desesperadora (romântica também). Mas é que o rock não é só música; é, além disso, comportamento. E do jeito que as coisas estão caminhando, não sei não se errarei tanto com essa suposta projeção... (a não ser que o Casal Rock Nota 10 faça a sua parte).

Estamos deixando o rock n´roll adoecer e virar o que não move nada ³... O rock está virando exemplo de comportamento enquanto que, na verdade, deveria continuar a ser exemplo de rebeldia, contestação e movimento.

Alguém tomou o caos do rock e injetaram nele o comportamento exemplar. Estamos todos fodidos!


¹. vide em 05 agosto 2010.

². vide em 13 setembro 2010.

³. vide em 03 agosto 2010.


HUGO PEZATTI é rockeiro.

Contato: pronunciarock@yahoo.com.br

PS. Talvez eu seja um rockeiro que se recusa a envelhecer. Alguém já viu um rockeiro velho? Eu só conheço velhos rockeiros...

4 comentários:

  1. Ótemo texto!
    As "passagens" do Tio Bôra então...

    Acho que ele deveria ter um espaço no blog para escrever suas mensagens de incentivo para todos!

    Não é justo que o mundo não desfrute das sábias palavras deste profeta do mundo moderno!

    Abraço à todos

    Alemaum!

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  2. O convite será feito... E por falar em convite, quer escrever para o Blog?

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  3. ROCK'N'ROLL
    4EVER !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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