Foi na madrugada do sábado, dia 11, para o domingo, dia 12 de setembro. Estava por lá à toa, me divertindo, ou seja, fazendo um rock. Meu amigo Tio Bôra me ligara na sexta-feira anterior convidando-me para ir a uma festa de uma Big House em Campinas. Pensei: por que não interagir com uma nova sociedade? Por que não usufruir dos meus ainda 27 aninhos? Por que não agora? Fomos.
Estacionamos no [shopping] Ventura Mall e aguardamos o renault roxo que iria nos buscar. Cerveja na mão e cabelos ao vento, eu e Tio Bôra observamos “as melhores” enquanto o “cu roxinho” não chegava. Eis então que um Celta preto com três garotas estacionou ao nosso lado. Inaiê, anfitriã que nos receberia a mando do nosso anfitrião Fera, estava dentro do Celta preto.
- Mas não era um renault roxo? – indagamos Inaiê.
- É que o celta delas [as outras meninas] estava mais fácil de sair.
Bom... A festa prometia ser “daquelas,” afinal, três mulheres recepcionando dois homens indicava um possível azeite no rabo (sábios conselhos do experiente Tio Bôra...). E que peitos dessa Inaiê! Cresceriam dois centímetros de tanto eu mamar...
Chegamos! A casa era do caralho! Espaçosa por dentro onde, na sala, a banda. Ruim era o mini-quintal. Recortado. As paredes dele formavam ângulos oblíquos, restringindo o espaço. Mas beleza! A churrasqueira estava lá... E acesa!
Voltando a sala fui averiguar o que me intrigava: uma bateria eletrônica. Nada de tecladinho chá-chá-chá não. Era uma bateria mesmo, porém, eletrônica. Tipo a do Roupa Nova, saca? Ela era maaaagra (mineirinho falando)... Feinha. Um Marshall inglês 40 e um Fender U.S.A. 40 “torariam o pau” quando a banda começasse. O cubo do baixo e da voz não era a quem dos outros dois, mas beleza, gritariam bastante durante a festa. E aquela “magrela” me encarando. Que vontade de bater... (não de tocar).
Às vinte horas começou o rock. (Cedo?). Mas por que diabos aquela “porra eletrônica”? – perguntava-me. Tinha uma acústica desmontada ao lado, mas pô, a causa disso era o alto barulho. Solução: bateria eletrônica para deixar o som em um volume baixo. Com uma bateria normal os amplificadores “cantariam” mais altos e a polícia (a pedido dos vizinhos) baixaria lá. O que seria normal em uma festa rock. Mas não... “Não queremos perturbar a ordem. Queremos ficar na nossa. Fazer nosso som em paz”.
Essa mentalidade tá fudendo o rock!
Não estou fazendo apologia à briga, à pancadaria ou ao desentendimento. Estou fazendo apologia ao rock, caralho! É aquela história que falei na minha estréia aqui na Rádio (“Do Interior Para Fora ¹...”): o rock está comportado. Pô, então... Ele adoeceu, correto? Que rock biruta é esse? Cadê a rebeldia? Cadê o Johnny B. Goode misturando negros com brancos na sociedade racista dos Estados Unidos de 1954? Cadê a “polícia para quem precisa”? Cadê a “encheção” de saco? Porra, cadê a madrugada?
Era vinte e uma horas e cinqüenta e oito minutos e o equipamento foi desligado. O som da bateria (horrível por sinal) estava baixo! Meu... Cadê o rock? Está nas músicas? Por favor baby, se você acha que rock é só música, pare de ler este texto... Melhor! Vem cá. Senta aqui que eu te explico, gata! Gostosa!
Voltando...
Na plateia estava a representação de Sinva: eu, quando na única música que “misturou brancos e negros” [Would?], arregaçada pelos vocais do Tio Bôra, gritei: “a melhor música da noite!” - tipo as célebres de Sinva: Seattle é aqui! Eu sou um homem nas grades! Toca Marionetes! Também estavam Tio Bôra, garotas dançando (a la dançarinas do Faustão), bêbados, maconheiros em geral e um Casal Rock Nota 10. Ah! É claro... E a sensação da plateia: o garotinho Talles, dois anos de rock, filho do Casal Rock Nota 10.
O garoto interagia com o som, chacoalhava com o rock e era orgulho de todos. E todos pensavam: “esse garoto, quando crescer, vai ser um rockeiro foda!”. Já eu, o intolerante ², chorava... De tristeza mesmo... (Lá vem o cético... Cara chato meu...).
Eu queria saber o que se passava na cabeça de Talles durante el concerto. No começo ele não tirava os olhos deste cabeludo (vocês sabem... As crianças são carudas, né?). Aproveitei “o convite” e fiz o sinal do rock com as duas mãos, bem próximas ao seu rosto térreo, e mostrei-lhe a língua a la Kiss enquanto passava por ele para ir buscar outra cerveja. O Casal Rock Nota 10 aprovou! E little Talles também! Mas... Afora este gesto genuinamente rock n´roll, o que mais lhe servia de exemplo naquele local? Bateria de baixo volume? Música baixa para não incomodar? Festa de rock sem sirene para cortar o som? Sem sirene para não dizermos “polícia filha da puta deixa o rock rolar”? Que rock é esse que o Talles está descobrindo? E olha que, de cabeludo só vi eu e outro cara. Só vi quatro camisetas de bandas. E vai vendo... Daqui dez anos eu terei 37, o Tio Bôra 41 e o little Talles 12 anos (a idade em que se começa a tocar [é... Também!], deixar o cabelo crescer, questionar os pais e a polícia, adorar o capeta, enterrar cristo e ter raiva dos Estados Unidos e do sistema). E aí?
Little Talles não tomará enquadro da polícia, não vomitará na calçada, não terá cabelos longos, não rasgará sua calça, chegará no horário, viverá em seu quarto e aceitará a ordem vigente sempre. Será um adolescente comportado, comum, normal, pois terá crescido sem ver e conhecer o verdadeiro rock n´roll. Ok! Isto é só uma projeção suposta e desesperadora (romântica também). Mas é que o rock não é só música; é, além disso, comportamento. E do jeito que as coisas estão caminhando, não sei não se errarei tanto com essa suposta projeção... (a não ser que o Casal Rock Nota 10 faça a sua parte).
Estamos deixando o rock n´roll adoecer e virar o que não move nada ³... O rock está virando exemplo de comportamento enquanto que, na verdade, deveria continuar a ser exemplo de rebeldia, contestação e movimento.
Alguém tomou o caos do rock e injetaram nele o comportamento exemplar. Estamos todos fodidos!
¹. vide em 05 agosto 2010.
². vide em 13 setembro 2010.
³. vide em 03 agosto 2010.
HUGO PEZATTI é rockeiro.
Contato: pronunciarock@yahoo.com.br
PS. Talvez eu seja um rockeiro que se recusa a envelhecer. Alguém já viu um rockeiro velho? Eu só conheço velhos rockeiros...
Ótemo texto!
ResponderExcluirAs "passagens" do Tio Bôra então...
Acho que ele deveria ter um espaço no blog para escrever suas mensagens de incentivo para todos!
Não é justo que o mundo não desfrute das sábias palavras deste profeta do mundo moderno!
Abraço à todos
Alemaum!
O convite será feito... E por falar em convite, quer escrever para o Blog?
ResponderExcluirSabias palavras!
ResponderExcluirROCK'N'ROLL
ResponderExcluir4EVER !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!