quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Notícias do Paraná

Poucos da geração 80 ou 90 o conhecem. Seus 54 anos de rock foram castigados por uma juventude “proibida de acessar” instrumentos musicais (vide em “Do interior para fora...”, pf.11). Porém, na compensação, os vinís amanhecidos tantas vezes eram o refúgio de Sinva.

Este homem viveu e vive como ninguém o lema “sexo, drogas e rock n´roll”. Ele pede o som, a “jam session” e evoca os deuses do rock em todos os dias que o vejo. É um rockerman autêntico, original da época, um clássico.

Assistindo ao ensaio da banda de seu filho – o guitarrista Rodolfo - Sinva foi pego de surpresa. Após atender a uma ligação, o baterista Hugo quase que fatalmente admitiu Sinva no carro que partiria dia seguinte à cidade de Campo Mourão, no Paraná. Seus olhos azuis brilharam! Seria o que mais próximo poderia chegar (em vida) ao Woodstock de 1969!

Mais uma vez castigado por uma época, Sinva aludiu ao “Homem das Grades” e, preso por razões pessoais da terra e da família, sucumbiu ao anseio do festival no Paraná. Lamentando a fatídica dispensa da convocação, Sinva entoou palavras que fazem dele louco para uns e deus para outros: “Como eu não fiquei sabendo antes? Como não divulgaram? Cadê a divulgação? Cadê a televisão, o rádio, os cartazes? Como isso não chegou até aqui? Cadê o som?” - para que você entenda, na cabeça de Sinva o som é a energia da vida, e o rock é quem rege o som. Nada mais importa. Só o som. O rock.

Na transcedentalidade de Sinva, um evento dessa magnitude teria que chegar até as pessoas, pois o som é a vida e o rock é o único que pode desprender as pessoas do caos apático em que elas vivem e nem percebem. Inconformado, Sinva lamentou a falta de articulação das informações “prestáveis” e deixou o recinto - após uma breve conversa (de três garrafas) com Rodolfo e Hugo no buteco mais próximo.

Loucura de Sinva? Mais umas de suas viagens? Não...

O mini-Woodstock mouraense (1º M.U.M. Rock Festival) contaria com 14 bandas que iniciariam o espetáculo às 18h00 do sábado, 07 de agosto de 2010. Com exceção da Pronúncia (SP), todas as bandas eram do Paraná. Algumas de Campo Mourão e outras de Maringá, Cianorte, Araruna e Curitiba. Umas bandas autorais e outras “discotecando” covers.

Quando cheguei – e isto era por volta das 23h00 – fazia frio. Mas nem tive tempo de senti-lo, pois enquanto esperava os outros saírem do carro, escutava a banda Yoga que já estava no palco. Apressando a galera fui até o local. O público estava numeroso (em relação ao amplo espaço), mas tirando a folga entra uma pessoa e outra, o lugar fervia. O palco estava escuro e esfumaçado; o lugar estava escuro esfumaçado. Ah sim! Parece que a lei paulista de não permitir fumar em ambientes fechados não chegou ao Paraná. Pelo menos ainda. E, sim, apesar de o evento ser na chácara, o palco estava montado em um salão.

A Yoga tocava, os músicos estavam lá, mas cadê o Glaycon (vocal)? Aproximando-me do palco de meio metro de altura pude vê-lo sentado, com as pernas cruzadas; uma delas tocava o chão e a outra se debruçava carinhosamente, como se Glaycon fosse um explanador convicto de suas teorias ou críticas de bossa nova. Pensei ser mais uma de suas loucuras – o cantar sentado. Talvez ele estivesse bêbado demais e zonzo. Enfim. Passou-se uma, duas, três, quatro, cinco músicas, porra, o show inteiro! O que houve?

Minutos antes de eu chegar, Glaycon havia dado um mosh (moshe) e caiu de mau jeito. Péssimo jeito. Quebrou a perna! E o cara ali depois fazendo o show sentado e foda-se! Digno de Woodstock. Digno de Sinva. “Cadê a televisão?”.

Passado esse choque, no intervalo do show da Yoga um cabeludo atravessou o salão correndo rumo às gramas da chácara. Vomitava forte, mas não saia nada. O pouco que saía era verde-amarelado e amargo: a bíli. O cara ficou verde, fraco, e foi se deitar no carro que o trouxera. Não! Ele não estava bebendo! Não era efeito do álcool. Ele estava a serviço do evento. Era baterista de uma das bandas que ia tocar. No longo caminho até Campo Mourão, aventurou-se em uma coxinha de estrada e dizem que o óleo da danada foi a causa da desgraça. Já havia vomitado duas ou três vezes no trajeto e por isto, desta última vez, só saíra a bíli.

Uma hora depois esse cabeludo ainda verde e adoentado estava no palco montando sua batera. Eis que surgem as primeiras baquetadas e o atrevido não me esqueceu que estava ruim? Isto deve ter causado uma má impressão para as demais bandas, pois temendo não ter condições de tocar, a organizadora do evento antecipou seu show colocando-o na frente de uma outra banda. E, se para conseguir isto a organizadora falou a verdade, os integrantes da outra banda devem ter achado estranho o homem verde ter tido força para rasgar a pele do bumbo logo na segunda canção... “Nossa! Que saúde!” – devem ter pensado. E que saia justa deve ter ficado a organizadora...

E “que bosta” devem ter pensando os outros. O show e o evento fervia quando a Pronúncia subiu no palco, mas o bumbo furando logo no segundo som foi o mar vermelho fechando em cima dos egípcios. Improvisos ainda foram feitos colocando o pedal da bateria mais pra lá e depois mais pra cá, mas o rombo na pele do surrado bumbo crescia a cada pisada e duas músicas depois fora inevitável parar de tocar. A Pronúncia estava fora e o evento congelado no frio mouraense e no tempo.

Outro bumbo chegou uma hora depois, mas não pude ficar até o fim do evento, pois eu e a minha expedição não queríamos incomodar o nosso anfitrião (que já se tinha ido e) que num terceiro ou quarto gesto de bondade preparou um colchão e dois sofás para nos esticarmos e, enfim, descansarmos das horas e horas de viagem.

O mini-Woodstock de Campo Mourão foi digno de Sinva e do rock n´roll (“cadê a televisão?”), já por aqui em S. J. Rio Preto-SP, só seguranças provocando e espancando o bêbado no Vila Dionísio. Coisa feeeeia...




HUGO PEZATTI é fundador e baterista da banda Pronúncia, historiador graduado pela unesp de Franca, professor do ensino fundamental e médio. pronunciarock@yahoo.com.br

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