Um dia antes...
A dor intestinal era intensa e nada densa. Saia água marrom meio amarela; da cerveja de ontem. Como é que pode uma coisa dessas? Meu “olho debaixo” está roxo de tanto papel! E fresco, pois agora só aceita o bidê ou o chuveirinho com água morna. Muito fria dá choque. Bem... Fresco ele sempre foi mesmo. Aos esguichos e “arrotos” aos poucos fui me acalmando outra vez.
“Truco memo, negão!” – gritei. E o entusiasmo do meu parceiro elevava o feito a um orgasmo múltiplo acelerado pela adrenalina. Meu três de espadas fez a segunda. Agora eu vou ter que tornar.
A agitação turbulenta (louca para levantar e me levar embora) estremecia o meu acento. Ela ecoava pelo local, forte como um galo cacarejando em sinal de potência. Ouvidores no recinto negociavam a próxima rodada (“tem alguém de próximo?”). O fim era inevitável, mas relutava a acabar. Como o som de um fusca morrendo pausadamente na subida, minha dor intestinal sucumbiu ao prazer. Haveria de ser a última... Os ouvidores já haviam entrado em consenso e batiam em minha porta, mas meu prazer de alívio era ensurdecedor...
Revigorado, abri a segunda com um mero seis de ouro. E logo tomei um “seis mi, pato! Seis mi!”. Matematicamente, para as duas duplas eram desnecessários os seis pontos. Bastava três pontos pra eles e dois pra nós. Mão de onze? Talvez, mas o sinal foi claro! Era um sete copas, mas sabe como é.... Naquela altura não dava pra brincar. E nem “morrer de pau duro”. Entende? (Fala Pelé!). E aí, qual vai ser?
Vai sair ou não vai? Tem mais gente aqui! E para garantir, dei uma cheirada na mão; ver se o sabonete deu um jeito. É que quando tá líquido vaza pra tudo quanto é lado. A porta arredando e os novos ares entrando simbolizava o que eu queria fazer: abrir.
Abre! Eu quero ver! A velocidade pausada até modificava o som. E de novo o silêncio me fazia companhia - nos raríssimos segundos de alívio. Agora a merda já estava feita. A questão era saber quem ia sentir o cheiro. A regra do banheiro “quem caga não sente” não se aplicava a nossa mesa; não se aplicava ao truco. Mas a cara de luto do meu parceiro me fazia questionar o sinal. Foi o fim. Não deu, mas foi quase. Como é por aqui. Se foi quase, tá bão! Vamos jogar outra? Mas tem que esperar a próxima rodada... Eu disse rodada. Mas o que são quatro anos para quinhentos e dez anos de história? Quase nada. Tá bão. Se não der a gente tenta de novo...
Muuito bom... dei muita risada aqui. Vc tem o dom de escrever!!!
ResponderExcluirFala Hugo, gostei do texto,me lembrou bastante Rubem Fonseca. Aliás, o seu anterior da Bruna Surfistinha também ficou bacana, até baixei o livro pra dar uma conferida.
ResponderExcluirE sigamos canalhando por aqui.
Abraço
Rubem Fonseca? Que honra! Valeu!
ResponderExcluirPois é. A canalhice tem seu lado bom!
Abraços Leandro Canalha!
Hugo Canalha