segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Tempo

É... O tempo...

Muitas vezes tenho raiva dele! E são vários os motivos. O primeiro é o mais óbvio: o filha da puta parece que passa devagar, mas quando a gente vê... Já era! Olhamos para trás e já era.

É por causa desse filha da puta que sou assim hoje. Uma criança que não quer envelhecer. Um adolescente que vive preso nos anos 90 - quando eu tinha algo entre 14 e 18 anos. Mas aí, quando ingresso num trabalho novo (uma escola nova) sinto que há uma certa dúvida - por parte dos outros - se darei conta do recado. Porém meu currículo me defende e então percebo que gero uma certa curiosidade na direção da escola. Por outro lado, não sei se consigo passar a imagem de professor aos meus alunos. Não sei como eles me vêem. E tudo isto por causa do tempo!

Tenho esticado a minha adolescência, meu cabelo, meu sonho de ter banda e (há um tempo) até retomei um velho amor (mas não deu certo, adivinhe porque...). E assim, entro em um outro drama: meus amigos e as pessoas da minha geração envelheceram. Muitos já são pais e/ou se casaram (ou já estão arranjados), e eu continuo assim... Vejam só: não faz um ano e me vi sendo acordado na calçada por um motoqueiro que passava de madrugada me perguntando:

- Amiguinho, tá tudo bem? Onde você mora?

Mesmo bêbedo consegui falar com o motoqueiro, explicando que eu não estava tão longe de casa. Não tinha ideia se havia dormido cinco minutos ou duas horas, mas minha carteira e meus pertences estavam comigo intactos. Eu tinha 26 anos na ocasião. A diferença desta paras as vezes que, adolescente, perambulava pela rua é que, agora, estava sozinho... Cadê todo mundo?

O tempo faz a gente perder amigos e conhecidos, faz a gente perder ambientes dignos de saudades, faz a gente perder sonhos e nos dá compromissos, responsabilidades e monotonia.

Viver então muda de sentido. O tempo nos dá experiência e rouba nossa inocência. (Há quanto tempo não enquadro uma garota no muro de uma rua qualquer tentando conseguir o mérito de passar a mão em sua bunda ou algo mais?)

Agora tenho que conviver com a banda larga e o celular, passando tudo a ser rápido e instantâneo... Não só cair na cama e consumar o ato - isso é muito bom! -, mas a própria relação social. Parece que tudo é cronometrado.

E pra piorar, ainda me vejo no limbo (ou algo parecido). Me vejo sem lugar na Terra. Ou seja: para os da minha idade, meu espírito é novo demais e não me enquadro; para os mais novos, já sou um "tiozão" cheio de manias e com uma linguagem diferente da deles...

Aí volto para a realidade, me olho no espelho e vejo minha barba que achava que nunca ia ter. Me olho no espelho e vejo meu rosto e barrigada inchados que achava que nunca ia revê-los. Me olho no espelho, vejo meu cabelo comprido e me pergunto: ainda estão aí?. Me olho no espelho, vejo a vontade de brilhar e reconheço meu sonho adolescente.

E continuo me olhando no espelho e me vejo só.

Hoje posso pegar o carro e praticamente ir para onde quiser (sonho de todo adolescente), mas não tenho com quem ir e para onde ir. Eu até tento. Do nada vou a São Paulo ou a Franca ou na famosa Puta Que O Pariu, mas não é a mesma coisa. O tempo roubou minhas companhias e me deu o carro, o dinheiro (salvo as proporções) e a liberdade. Mas o que eu faço com isso sozinho?

E é olhando para trás e sentindo falta da adolescência que tento aproveitar ao máximo esta época em que me encontro. Penso: será que um dia sentirei falta dos meus quase 30 anos? Na dúvida, tento aproveitar, mas é difícil, pois tento aproveitar como se tivesse 16, quando na verdade tenho 27 anos (só).

Acho que, se eu batesse um papo com Freud, ele me diria que eu devo ter perdido algo na minha adolescência e que só quando achá-lo é que mudarei de fase. E, na real, eu devo ter perdido foi a vontade de envelhecer, pois eu era muito feliz aos 15, 16...! Agora minha idade biológica não está "batendo" com minha idade de espírito e eu me vejo como um ser anacrônico. Algo como... Nossa! Que dia é hoje? Mas o que isto significa?


HUGO PEZATTI é um homem sem tempo, mas com tempo para escrever...

4 comentários:

  1. é foda!! Mas estamos ai!!! auá!

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  2. Ufa! Por falar nisso... Ensaio na quinta-feira, beleza?

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  3. “Assim como vocês têm olhos para enxergar a luz, ouvidos para ouvir sons, também têm um coração para perceber o tempo. Todo o tempo que não é percebido pelo coração é tão desperdiçado quanto seriam as cores do arco-íris para um cego ou o canto de um pássaro para um surdo”.
    Momo e o Senhor do Tempo - Michael Ende

    Ae huguera, recomendo a leitura do livro... muito bom! Enquanto isso... let's go to jungle! hehehe

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  4. Opa! Quero lê-lo sim. Você o tem?

    Ah! Tocar com os Pork´s está me fazendo bem!

    Estamos precisando de uma batera Giulliano!

    Auá!

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